terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Aparece na TV? É grave!
Na famosa crise do petróleo há uns anos atrás, todos os telejornais abriam com informações sobre os preços dos combustíveis. E quase sempre, as noticias sobre o assunto eram más para os bolsos dos portugueses e do mundo em geral. Posto isto, eram constantes os "buzinões" e as pessoas a reclamarem nos postos de abastecimento, com o tempo o preço foi baixando e as pessoas acalmando.
Actualmente o preço do petróleo e dos combustíveis atinge valores recorde e as noticias sobre o assunto são esporádicas, e quando aparecem são pouco informativas. Mas a reacção das pessoas em nada se compara ao período de tempo apresentado anteriormente. Actualmente as pessoas olham para os preços, baixam a cabeça e pagam.
Na minha ideia, as pessoas só dão importância aquilo que os jornalistas tratam de forma sensacionalista. O que além de ridículo, considero extremamente irritante. O meu conselho é o seguinte, acordem para a vida, não é por a vossa opinião não aparecer na televisão que deixa de ser interessante, a sério por favor, acordem para vida.
Dou-vos o meu exemplo, quando aqui escrevo não espero que toda a gente concorde comigo ou sequer que leia o que escrevi, o que quero é que quem o ler fique a saber o meu ponto de vista, e que quem não ler, o tenha à sua disposição. Por isso, por uma última vez, acordem para a vida.
ps: Peço desculpa por só postar agora, mas estive sem acesso à Internet desde ontem.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Vagas Medicina
Hoje quando estava a pensar sobre o que escrever até estranhei nunca ter escrito sobre este tema.
Começam agora a surgir alguns ecos na imprensa sobre as antigas pretensões dos estudantes de medicina e dos seus representantes que pedem que se diminuam as vagas de acesso ao curso de medicina. Concordo que as vagas devem ser racionalizadas com base em estudos concretos e de médio a longo prazo, não só a medicina como a todos os cursos. Ou seja, urge fazer um estudo estrutural do ensino da medicina e das necessidades de médicos do nosso país com base na geografia/demografia e na especialidade.
Só deve haver o número de vagas suficiente para cobrir as necessidades, obrigando os alunos a escolher as especialidades e os locais mais necessitados por mais que isso seja um pouco limitante. Os que não se querem sujeitar a estas regras têm a opção de emigrar. Deve também ter em linha de conta a qualidade de ensino, pois torna-se incompatível ter uma aprendizagem eficaz quando um doente tem 12 alunos à sua volta.
Por exemplo, se em 2020 são precisos 1000 médicos, 500 de Medicina Geral e Familiar, sendo que 100 são precisos em Bragança (e isto é fácil de estudar e em anexo vou colocar um estudo que demonstra isto), então em 2014 só devem abrir 1000 vagas para medicina e em 2020, 50% desses estudantes eram obrigados a ir para Medicina Geral e Familiar e 10% para Bragança. Em teoria isto já acontece, mas por cunhas, incompetência do sistema ou outra razão que me escapa há uma grande discrepância entre as necessidades e as reais ocupações.
Esta discrepância causa uma diferença de sentimentos entre os alunos de medicina e a população em geral. Os alunos de medicina preocupam-se pois já vêm alguns colegas de certas especialidades a não conseguir vagas, a população em geral vê as frequentes notícias de contratação de médicos estrangeiros para determinadas especialidades.
Outra crítica dos leigos consiste na média alta do curso. Mas isso baseia-se, obviamente, na relação oferta-procura. Se o curso é o mais procurado, só vão entrar os melhores alunos, daí a média ser tão alta. Não me parece minimamente razoável que se abram vagas aleatoriamente só para que as médias baixam.
Esta semana esta crónica é ligeiramente corporativista, embora pense que expõe os factos de uma forma idónea e com conhecimento de causa. Mas para a semana darei, ainda sobre este tema, umas alfinetadas no corporativismo médico.
Em anexo segue a notícia no Diário de Notícias sobre o tema e o estudo da Administração Central do Sistema de Saúde sobre as necessidades do SNS!
Pedro von Hafe Leite
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
1º tiro no pé
A conclusão é óbvia, Portugal fez aquilo que entendia necessário nas relações de investimento com Angola, Brasil e China em muito pelo facto de os seus parceiros Europeus não estarem dispostos a confiar ou a investir preciosos recursos em outro país que não o próprio. Este foi um dos tiros no pé da Europa.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Impossibilidade de Publicação
Por motivo de doença, não será possível proceder à publicação da habitual crónica semanal.
RJFSilva
O Sector Empresarial do Estado
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
O povo não decide, mas também não quer saber.
O voto não deve ser usado apenas para definir o próximo tacho de alguém, deve também ser, representante da vontade do povo. Considero que há assuntos que só um governo deve ter poder de decisão sobre eles. Mas há tantas outras coisas em que um simples "sim ou não" decidiria justamente o que fazer.
Por exemplo, usando o post do Pedro, porque não um referendo sobre a proibição das touradas? Será que é mesmo preciso tanto alarido por causa disso? É preciso alguém ir falar com o PM? Eu penso que não. Um referendo decidiria isso de uma vez por todas. A maioria ganha e o resto tem que aceitar e se não aceitar pode sempre ir para a rua protestar, é assim a democracia.
Já sobre as medidas de austeridade, temos que ser realistas, apenas o governo deve ter a decisão sobre estas e o povo tem que esperar o melhor.
O que acontece é que actualmente, todas as decisões recaem sobre o governo, e as mesmas são tomadas com base no lado da bancada em que se senta ou o quão popular a decisão o vai tornar.
Para agravar a situação, existe uma tremenda falta de interesse em querer "decidir", da parte do povo. Principalmente entre os jovens. E isso é preocupante, porque há mudanças no mundo que todos nós devemos temer. Todas estas crises, as tensões entre países, o crescente controlo sufocante da nossa liberdade. Tudo isto irá culminar em algo, bom ou mau não sei, só sei que devíamos estar todos mais atentos aquilo que se passa no mundo, e principalmente, não deixar ninguém decidir por nós.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Touradas
Sendo eu provavelmente a pessoa mais coerente do mundo dentro da minha incoerência, esta semana vou criticar o valor que se anda a dar à discussão das touradas dando, portanto, valor ao tema a que acho que se está a dar demasiado valor. Mas como ainda não vi ninguém a falar/escrever nisso, aqui vai disto:
Não quero entrar na discussão acerca das touradas, a sério, é-me completamente indiferente se há touradas ou não. Nunca na vida mexeria uma palha para que houvesse ou deixasse de haver touradas. No fundo, como maior parte das pessoas que defendem acerrimamente estas causas não mexem uma palha para ajudar as criancinhas que morrem à fome em África, porque estas não lhe dizem nada, é triste, mas é assim que funcionamos. Quanto ao espectáculo em si só acho que quando dá na TV devia ter aviso de poderem aparecer cenas violentas e no recinto não devia ser permitida a entrada a menores de 18 anos. Os putos não podem ver filmes com mulheres nuas, mas podem ir ver um touro levar com 7 lanças no costado e ainda partir 10 costelas aos forcados.
Posto isto, parece-me uma idiotice que perante uma iniciativa de enaltecer (das poucas) tomada por Pedro Passos Coelho vá desembocar no raio das touradas, perdendo-se a oportunidade de fazer algo útil. Refiro-me a iniciativa em que se promove o lançamento de uma ideia no site do governo e o autor que tiver mais votos no Facebook tem direito a uma audiência com PPC. Ora, o movimento com mais seguidores (o dobro do 2º) é o que fala na abolição das touradas. Mas porquê? Em que é que o país ganha com isto? Na minha opinião, nada!
Depois, ou antes, é indiferente, fez-se uma petição para acabar com as touradas. Até aqui tudo bem, por mim até se fazia uma petição para o macaco Adriano voltar para a SIC. A questão é que essa petição acabou a ser discutida no parlamento. Aqueles duzentos seres que são pagos para comandar o futuro do país, que nunca esteve tão negro, perderam, um minuto que seja, com este assunto.
Vamos lá centrarmo-nos no que é realmente importante e deixo-vos aqui o link da iniciativa do Governo para irem votar em qualquer ideia menos nessa:
http://www.portugal.gov.pt/pt/o-meu-movimento.aspx
Pedro von Hafe Leite
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Need to know basis
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Encarregados de Educação, qual a função?
Fala-se muito sobre a falta de educação dos jovens, nomeadamente para com os seus professores (são quem os "atura" a maioria do tempo). Já foram já aqui abordadas algumas razões para ta; hoje gostaria de deixar uma ideia para a contribuição na mudança.
O que é um encarregado de educação (ED)? Quais são os seus deveres?
Segundo o artigo 8º do Decreto-Lei n.º 270/98, de 1 de Setembro, o encarregado de educação tem, entre outros, os seguintes deveres:
1 - O direito e o dever de educação dos filhos compreende a capacidade de intervenção dos pais no exercício dos direitos e a responsabilidade no cumprimento dos deveres dos seus educandos na escola e para com a comunidade educativa, consagrados no presente diploma e no regulamento interno.
2 - Sem prejuízo dos direitos e deveres dos pais e encarregados de educação estabelecidos no regime de autonomia, administração e gestão, o poder-dever de educação dos filhos implica o exercício dos seguintes direitos e deveres:
b) Colaborar com os professores no âmbito do processo de ensino-aprendizagem dos seus educandos;
d) Cooperar com todos os elementos da comunidade educativa no desenvolvimento de uma cultura de cidadania, nomeadamente através da promoção de regras de convivência na escola;
Então, a própria lei já pressupõe que o ED é o responsável pela a educação do menor e que este deve cumprir regras (Artigo 7.º Deveres gerais do aluno
A realização de uma escolaridade bem sucedida, numa perspectiva de formação integral do cidadão, implica a responsabilização do aluno, enquanto elemento nuclear da comunidade educativa, e a assunção dos seguintes deveres gerais:
a) Tratar com respeito e correcção qualquer elemento da comunidade educativa;
b) Seguir as orientações dos docentes relativas ao seu processo de ensino-aprendizagem;
c) Respeitar as instruções do pessoal docente e não docente;
d) Respeitar o exercício do direito à educação e ensino dos outros alunos;)
Assim, não deveria ser o ED também responsabilizado e punido quando o seu educando não respeitou as regras, ou seja, quando a sua educação (responsabilidade do ED) não é a correcta?
Eu penso que sim. Julgo que muita da falta de educação que ocorre hoje em dia provem de um "desleixo" educativo parental e que, por isso, deveriam existir mecanismos que responsabilizassem os ED, "obrigando" a que estes fossem mais activos e eficazes no seu dever educacional. Pois, se um menor é mal-educado e/ou mal-comportado, uma boa parte da "culpa" recai sobre os ED.
O que vai VOCÊ FAZER em relação a isso?
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Se não estão bem mudem-se.
Por exemplo, imaginem-se sentados à sombra e ao frio quando dois metros ao lado têm um lugar com sol e conforto. Quantas vezes já não se viram nessa situação e não trocaram de sitio apenas porque como já estavam instalados não quiseram ter o trabalho de mudar? Imagino que já algumas vezes, por isso para a próxima façam como eu, mudem-se para o conforto, não custa nada e sabe melhor.
Outra situação é deixar de fazer coisas, porque "já alguém o faz melhor". Será isso razão suficiente para tanto derrotismo psicológico? Façam e concretizem, falhar faz parte do caminho. É o medo do falhar e do conformismo que tornou este país num país sem vontade. A nossa crise de vontade é um problema profundo, e como todos os problemas profundos devemos sempre começar pelas partes mais simples de resolver. Por isso se não estão bem, mudem-se.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Six Catroges
Esta semana deixo-vos com um vídeo de um grupo de jovens que está a tentar montar um projecto com base no humanismo e na solidariedade em todos os PALOP's+Macau, e cujo único entrave é o seu financiamento. Aqui vai com a descrição do vídeo no Youtube:
'Six Catroges - porque estimamos que 6 vencimentos mensais do Dr. Catroga chegariam para financiar todo o nosso projecto. 5 anos, beneficiando milhares de pessoas.
Vocês, para além de piegas, são inteligentes...portanto não vale a pena estar a referir alguns factos subentendidos existentes neste vídeo...
Aqui fica o link para o projecto Calisto:http://issuu.com/andrevhleite/docs/projectocalisto/1'
domingo, 12 de fevereiro de 2012
O senhor Silva
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Educação não é Formação
Primariamente, penso ser importante analisar alguns pontos onde uma política educativa assenta. Começaremos por tentar perceber qual é a função do sistema educativo.
Designa-se ao conjunto de estrutura lectiva nacional de sistema educativo, mas será que na realidade é um sistema educativo ou será mais um sistema formativo.
Penso que, infelizmente, cada vez mais se confunde educação com formação.
"Antigamente" a educação (transmissão de valores morais, éticos, cívicos, e de adequação comportamental) era, maioritariamente, da competência da família e não da escola; sendo que na transmissão de conhecimentos "técnicos" a proporção invertia-se.
No entanto, progressivamente, com a desagregação da estrutura social baseada no modelo familiar, a escola foi absorvendo uma boa parte da função educativa. Isto acontece porque cada vez os pais saem cedo e regressam tarde a casa, ficando as crianças nas instituições. Quando têm tempo para estar com os seus filhos, querem que esse tempo seja de "qualidade" e por isso não querem birras, choros, amuos, ou que os filhos os achem "maus", acabando por fazer quase todas as vontades aos filhos.
Concomitantemente, foram-se perdendo "figuras de autoridade e respeito" (ex: professor, policia, padre, pai), as quais eram "intocáveis". Quem, hoje com mais de 45 anos, se atrevia a desobedecer/desrespeitar alguma das figuras supra-mencionadas no seu tempo de criança/adolescente? Ninguém! Assim, com o desaparecimento destas figuras, destes "limites", tudo se tornou possível. Consequentemente, hoje numa escola secundária quando um professor tenta impor respeito / disciplina, não é raro ouvir-se a frase: "quem és tu para me falar assim, se nem o meu pai me fala assim?!".
Chocante? Sim. No entanto, eles têm razão! Que sentido faz, ou se preferirem, como é que se explica a uma criança, que um "estranho" possa impor-lhe regras se os próprios pais (teoricamente figuras máximas do respeito) não o fazem?
Desta forma, antes de trabalhar no modelo de sistema lectivo é necessário debater e escolher que tipo de sociedade queremos, nomeadamente, se queremos um sociedade baseada num modelo familiar ou se, por outro lado, preferimos uma sociedade mais "social" onde o "sistema" fica encarregue de formar e educar as crianças.
Se optarmos pela segunda hipótese, então teremos que criar todas as condições para que ela funcione, designadamente, criar e fornecer aos professores as "ferramentas" necessárias para poderem proceder a essa tarefa. Algo que, paradoxalmente, os professores não só não têm tido, como têm visto ser-lhes retirado. Desta forma, actualmente, chegamos ao absurdo de exigir mais funções ao sistema, enquanto paralelamente se lhe retira capacidades instrumentais para tal; pois o que contou para os sucessivos governos foram os "números" para mostrar ao exterior e não os números serem apenas a consequência da real capacidade educativa e formativa nacional. Isto acontece porque os governos estão interessados apenas nos "resultados" imediatos e não em resultados reais, robustos e consistentes. Aquele tipo de resultados dos quais só se tem o retorno décadas mais tarde quando essas crianças forem adultos e se tornarem profissionais mais competentes e produtivos e cidadãos mais responsáveis e activos.
Com esta "política educativa" das últimas décadas, conseguiu-se o paradoxo de ter cidadãos cada vez mais formados mas menos educados! Se para percebermos como chegamos aqui (como sociedade) temos de olhar para o passado, e se para tentarmos antecipar o futuro temos que olhar para o presente, então, com esta politica educativa, infelizmente, o futuro não parece nada risonho.
O que vai VOCÊ FAZER em relação a isso?
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Reforma da Administração Local
Quanto ao tema em questão, a RAL, pretendo começar por apresentar alguma informação relevante para a análise do processo relativamente ao nosso concelho.
Os municípios e freguesias serão categorizados de acordo com critérios demográficos e geográficos, numa primeira fase. As categorias podem ser observadas na tabela 1 e na figura 1
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
A Igreja e o Estado.
Quanto ao primeiro ponto, sou da opinião que se um feriado religioso não celebra a família, não deve ser feriado. Até porque num país em que a liberdade religiosa é uma realidade, uma religião não deve ter mais poder do que as outras, por mais ou menos dimensão que tenha. Por exemplo, o Natal, para mim, nunca teve como objectivo a celebração do nascimento de Jesus Cristo, mas sim, uma celebração da família (e penso não ser o único a pensar assim). Por muito significado religioso que essa época tenha, esse mesmo significado vai muito além da religião. Por outro lado temos feriados que celebram única e exclusivamente a religião. Enquanto por exemplo o 25 de Abril assinala um marco do povo português, o 15 de Agosto assinala e passo a citar: "A elevação de Maria em corpo e alma à eternidade, para junto de Deus, de forma definitiva.". Nem todo o cidadão português é crente, e principalmente, nem todo o cidadão é cristão. Posto isto penso que a existência de tais feriados põe em causa a igualdade religiosa, o que não é a mesma coisa que liberdade religiosa.
O que nos leva ao segundo ponto, se não há igualdade religiosa, alguém tem mais poder do que deveria ter. E apesar de não querer usar a palavra, terei que o fazer. É mais do que nítido que estamos perante um lobby. Só me surpreende que mais ninguém o aborde como tal. Mas um lobby é isso mesmo, um grupo de pressão, logo, pouca gente fala sobre isso.
Dados os últimos acontecimentos sobre a eliminação de feriados e a cedência do governo às exigências da Igreja, podemos ter a noção da influência que esta instituição tem no seio do governo. A partir do momento em que a mesma é uma apoiante do CDS-PP, é claro que nunca teríamos o fim de feriados religiosos, sem o fim de feriados civis. Nunca teremos procriação medicamente assistida nem uma politica de aborto coerente, e muito menos que o sistema de adopção tenha como principal critério a estabilidade económica e emocional de uma família em vez do estado civil e/ou tipo de relação que a família mantém, seja, hetero ou homossexual.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Jovens! - II
Os Portugueses têm algo de figadal contra todos os que tenham algo de fidalgal. Como as crianças, confundem muito a fidalguia, que é uma simples condição social, com a aristocracia, que é um sistema político em que o poder pertence aos nobres. E, no entanto, como diria Chesterton, não há mérito automático em ser fidalgo, nem vergonha em pertencer decididamente (como eu) à ralé.
Em Portugal a nossa civilização deve muito a duas classes minoritárias. Ambas são gente simples, com posses reduzidas e educação informal. Refiro-me, obviamente, à plebe e à nobreza. O pretensiosismo dominante, seja proletário ou possidónio, seja triunfalista ou disfarçado, encontra-se nas classes restantes, que constituem a grande maioria da população. Mas um pastor ou um pescador é tão senhor como um fidalgo. Como ele, vê o mundo de uma maneira antiga, em que cada coisa tem o seu lugar, o seu sentido e o seu valor. O pior é o operariado, a pequena, média e alta burguesia: enfim, quase toda a gente. É esta gente que se preocupa com a classe a que pertence. Enquanto o pastor e o visconde se ocupam, os outros preocupam-se. Os primeiros não querem ser o que não são. Os outros adorariam. Os primeiros aceitam o que são, sem vaidade. Os outros têm sempre um bocadinho de vergonha e por isso disfarçam, parecendo vaidosos.
Quem é fidalgo e quem é que quer ser?
Em Portugal existem três classes distintas. Há a classe dos fidalgos – os meninos “bem”. E depois há duas classes falsamente afidalgadas. Há os meninos “queques”, filhos de pais “queques” mas com avós que não. E há os “betinhos”, filhos de pais que, simplesmente, não.
O “menino bem” é aquele que não sabe muito bem em que século começou a fortuna da família. Geralmente é pobre, com a consolação irritante do passado rico. É muito bem-educado e jamais se lembraria de lembrar aos outros que é “bem”. O “queque” sabe perfeitamente que foi o avô ou o bisavô que abriu a fábrica ou a loja que enriqueceu a família. Geralmente é bastante rico. Embora tenha frequentado os colégios correctos, tem sempre um enorme complexo de inferioridade em relação aos “meninos bem”, o que o leva a fazer-se mais do que é. De bom grado trocaria grande parte da sua fortuna pela antiguidade e pelo prestígio de um bom título.
Finalmente, o “betinho” é aquele cujo pai nasceu pobre, indesmentivelmente operário. O betinho procura dar-se, em vão, com queques e meninos bem, mas a sua educação é formal e institucional, não familiar. É o mais rico de todos, mas é também o mais envergonhado. O betinho por excelência é aquele que não suporta a vergonha de um pai nascido entre o povaréu. Evita apresentá-lo aos amigos. Tudo faz para ocultar a sua proximidade genealógica ao vulgacho.
Tanto o queque como o betinho são o resultado de self-made man, homens que se levantaram pelas próprias mãos, quantas vezes rudes e calejadas e tudo o mais. O menino bem, em contrapartida, nem sequer compreende o conceito de self-made man. Porque é que um homem se há-de “fazer a si próprio” quando houve sempre pessoal, criados e caseiros, para se ocupar dessas tarefas desagradáveis?
Distinguem-se em tudo. A falar, por exemplo. O menino bem usa todas as formas de tratamento, desde “a menina” – A menina vai levar o Jorge ou vai sozinha no Volvo? – até ao “Psst, tu que fumas”.
O queque, por ser menos seguro, trata toda a gente por “Você”, incluindo os criados e as crianças (o que não é correcto, mas parece). O betinho, a esse respeito, está em absoluta autogestão. Tenta tratar mal aqueles que considera inferiores (demasiado mal) e bem aqueles que considera superiores (demasiado bem). No fundo é um labrego engraxado que julga sinal de aristocracia dizer os erres como se fossem guês.
O que caracteriza o menino bem é o seu total à vontade no mundo. Nunca se enerva, nunca hesita, nunca está muito preocupado. Haja ou não dinheiro. O menino bem dá-se bem com a pobreza e encara o sobe e desce da sorte com a naturalidade com que aceita a circulação do sangue pelas veias. Por isso dá-se bem com toda a gente. Nada tem a perder ou a ganhar.
Os queques não são assim. Pensam que nasceram para o brilho baço do privilégio. Vivem obcecados pelo dinheiro já que é o dinheiro que lhes permite comprar todos aqueles adereços (relógios Rolex, automóveis Porsche) que consideram indispensáveis ao seu estatuto social. Um menino bem, em contrapartida, nunca usa relógio – porque é que há-de querer saber as horas? O queque só se dá com pessoas “do seu meio”. Enquanto o menino bem tem aquele rapport feudal com caseiros, varinas e pedreiros, que constitui uma forma multissecular de intimidade, o queque aflige-se em “manter as distâncias” com esse gentião, precisamente por serem tão curtas.
O betinho é uma pilha de nervos. Ninguém o respeita. Dá-se quase exclusivamente com outros betinhos, do mesmo ramo de importação de electrodomésticos ou da construção civil. Não gostam de sair da sua zona. Os de Lisboa, por exemplo, só quando há uma emergência é que saem do Restelo. Ao contrário dos queques, evitam falar em dinheiro porque se sentem comprometidos. Esforçam-se mais por serem meninos bem do que os queques, que julgam já serem meninos bem. Andam sempre vestidos pelas lojas mais tradicionais (camisa aos quadradinhos, casaquinho de malha, jeans novinhos e mocassins pretos com correiazinha de prata ou berloques de cabedal), ao passo que os queques compram roupa mais moderna na boutique da moda. Escusado será dizer que os autênticos meninos bem andam sempre mal vestidos, com a camisola velha do pai e as calças coçadas do irmão mais velho. A única diferença é que as camisolas e as calças que têm em casa duram cem anos. Os avós já compram camisas a pensar que hão-de servir aos netos. Aliás, os fidalgos são sempre mais forretas que a escória.
No que toca aos hábitos alimentares, os meninos bem comem sempre em casa. Como as famílias são geralmente muito grandes (de resto, como sucede com o populacho), a comida é quase sempre do tipo rancho, ou sempre servida com muito puré de batata.
Os queques estão sempre a almoçar e a jantar fora, em grupos grandes com muitos rapazes e raparigas a exclamar: “Ai, já não há pachorra para o quiche lorraine!” Aqui se denunciam as suas verdadeiras origens sociais. Para um menino bem, comer fora é uma espécie de solução de emergência, quando não dá jeito comer em casa. Para um queque é um prazer.
Nas casas bem, a qualquer hora do dia, há sempre uma refeição a ser servida a um número altamente variável de crianças, primos, criadas, motoristas, tias, etc.
Nas casas queques as refeições variam conforme os convidados. Nas bem são sempre rigorosamente iguais. Os queques têm a mania dos restaurantes – conhecem-nos tão bem como os meninos bem conhecem (e odeiam) as cozinheiras. E os betinhos? Os betinhos tentam evitar as refeições o mais possível. Comem sozinhos em casa (os betinhos tendem a ser filhos únicos) ou levam betinhas a jantar. Porquê? Porque têm a paranóia de serem “descobertos” através dos modos de estar à mesa. Mas, na verdade, só são descobertos pelo seu excesso de boas maneiras. Um betinho à mesa está sempre “rijo”, atento, receoso de tirar uma azeitona por causa do terror de não saber lidar com o caroço. Os queques comportam-se como animais, espetando garfos nas mãos estendidas dos outros, soprando pela palhinha para fazer bolinhas no Sprite e atirando os caroços para martirizar o cocker spaniel. Quanto aos meninos bem, encaram as refeições como uma simples necessidade fisiológica. Comem e calam-se. Falam só para dizer “passa a manteiga” ou “Parece que houve uma revolução popular em Lisboa, passa a manteiga”.
Não são, portanto, os fidalgos que dão mau nome à fidalguia – são os queques e betinhos. Estes cultivam ridiculamente os “brasões” e as “quintas”, fingindo que não gostam de falar nisso. Em contrapartida, nas casas fidalgas, os filhos das criadas experimentam os lápis de cera nos retratos a óleo dos antepassados. E ninguém liga…'
Pedro von Hafe Leite
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Novo paradigma para o SNS III
Um dos problemas de qualquer instituição que preste um serviço, é a verificação da qualidade do mesmo. Existem vários modelos para os diversos sectores, todos eles têm 1 ponto em comum: a necessidade de análise interna e análise externa.
Como se aplica isto à saúde? Como, quem, onde, quando avaliar a qualidade de um serviço de saúde? É um tema extremamente importante e necessário mas, no meu ponto de vista, demasiado técnico e longo para ser aqui devidamente esmiuçado. Assim, irei apresentar apenas algumas ideias que, apesar de incluírem os pressupostos supra-mencionados, não se enquadram nos modelos vigentes.
Verificação externa
Como garantir que aquele foi o melhor acto médico para aquele doente naquela situação? Não é possível, porque ele não existe! Pois, normalmente, existem vários actos médicos, igualmente bons e viáveis, possíveis. Agora, o que é possível é saber se foi um mau acto médico. Contudo, a grande maioria dos utentes não tem capacidade para fazer esta avaliação. Deste modo, essa tarefa tem de ser efectuada por alguém com competências adequadas e com o interesse necessário. Dentro do modelo apresentado na semana anterior, um dos interveniente que poderia contribuir para essa função seriam as instituições pagadoras dos serviços (companhias de seguros), as quais teriam interesse em que os seus clientes fossem bem tratados. Esta avaliação seria efectuada por técnicos de saúde habilitados para tal (médicos e outros) e, caso ficasse provado que foi prestado um mau serviço ao utente, a companhia de seguros poderia recusar-se a pagar (sem prejuízo para o utente). Da mesma forma, poderia haver uma instituição independente com capacidade para ouvir, investigar, aconselhar e apoiar os utentes com dúvidas e ou queixas (uma "DECO" ou "ASAE" com vocação para os problemas associados á saúde).
Verificação interna.
O melhor garante para a execução de um acto com qualidade é a vontade do próprio para tal. Posteriormente, a verificação dos pares, e por fim a fiscalização. Como incentivar a que o próprio tenha essa iniciativa? Instituindo um sistema de "reforço" meritocráta: quem trabalha mais e melhor tem mais retorno desse esforço, quem não cumpre não tem retorno, que prevarica é punido. Deste modo, e aplicado ao modelo em discussão, um técnico de saúde poderia ter parte do seu salário indexado à sua produção (consultas, cirurgias, doentes atendimentos na urgência, etc), "reforçando positivamente" o seu esforço quantitativo. O seu esforço qualitativo poderia ser incentivado pelo "reforço negativo", isto é, não prestando um mau serviço não seria prejudicado. Aqui a qualidade seria avaliada pelo não retorno do utente ao prestador de serviços de saúde pelo mesmo sinal/sintoma, ou derivados (ex: alguém operado ao joelho por "fractura do menisco" mas que depois da alta volta porque afinal também tinha ruptura do ligamento cruzado anterior). Assim, a repercussão poderia ser de 2 formas (caso se provasse que foi um mau acto): i) com um registo destes casos no currículo, prejudicando a progressão na carreira, ii) com um sistema de "garantia de qualidade" em que uma % do valor que o técnico aufere pelo acto só lhe seria paga após um determinado período de tempo (avaliado caso a caso); tempo este necessário para a verificação da qualidade do serviço.
O que vai VOCÊ FAZER em relação a isso?